Trabalhadores aprovam pacote da GM para fábrica de São José

Assembleia de trabalhadores da GM
Foto: Rogério Marques / OVALE
Em contrapartida à chegada de investimentos, metalúrgicos aceitaram redução no piso salarial, congelamento do reajuste e mudanças na PLR e adicional noturno
Os metalúrgicos da GM (General Motors) em São José dos Campos aprovaram na tarde desta quinta-feira as 10 propostas da montadora em contrapartida à chegada de novos investimentos ao complexo industrial da cidade.
Numa assembleia unificada com os dois turnos do complexo, as propostas da GM foram apresentadas e aprovadas por completo.
Após anunciar um plano de reestruturação mundial em novembro de 2018, a presidente da GM chegou a ameaçar fechar as operações da empresa no Brasil e na América Latina caso não revertesse alegado quadro de prejuízo.
A montadora cobrava a aprovação das propostas como contrapartida para trazer um novo carro para ser fabricado na unidade, uma das fábricas que estaria ameaçada de fechamento nos próximos anos.
Entre as propostas aprovadas, estão o congelamento do salário em 2019 e cortes na PLR (Participação em Lucros e Resultados) e no adicional noturno, além de redução do piso salarial de R$ 2.300 para R$ 1.700.
A GM emprega 4,8 mil trabalhadores em São José e produz a picape S10, a SUV Trailblazer, motores e transmissões.
Nota oficial da General Motors
A GM informa que as negociações com o sindicato e funcionários da fábrica da General Motors, em São José dos Campos, foram encerradas com sucesso. Este é mais um passo para a concretização do plano de viabilidade da GM. As tratativas com os fornecedores, governo e outros interessados continuam de forma diligente.
Abaixo, alguns dos pontos aprovados, por unanimidade, em assembleia realizada com os dois turnos de trabalho:
Participação nos Resultados por três anos, sendo: 2019 – R$ 7.500,00, excepcionalmente para este ano, sem o conceito de proporcionalidade. 2020 – R$ 12.694,00 acrescido do INPC de janeiro a dezembro. 2021 igual ao valor do ano anterior acrescido do INPC de janeiro a dezembro. A primeira parcela será paga no mês de abril de cada ano;
Data Base – 2019 – Sem reajuste salarial e o pagamento de um abono no valor de R$ 2.500,00. Em 2020, aplicação de 60% do INPC apurado de Setembro/19 a Agosto/20 e pagamento de um abono no valor de R$ 1.500,00. Em 2021, aplicação de 100% do INPC, apurado de setembro/20 a agosto/21;
Cláusula de Garantia de Emprego ao Empregado Acidentado: Para os atuais empregados mantém a cláusula vigente; para novos empregados passará a se aplicar a lei;
Renovação dos acordos de flexibilidade (Escala patrimonial, Domingo, Jornada 12 x 36, Jornada de terça a sábado, Terceiro Turno 6 x 1), inclusive o acordo das folgas anuais e DSR (Descanso Semanal Remunerado).
Entrevista com Renato Almeida, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos
O que achou da aprovação?
Desde o começo, quando a empresa apresentou o pacote de 28 itens, nos posicionamos contra, mas sempre dissemos que a decisão seria dos trabalhadores. Depois de seis reuniões, tivemos essa proposta e hoje, com mais de 90% de participação, eles aprovaram.
Acredita que haverá perdas?
A questão do piso salarial, flexibilização de jornada, do ponto de vista do sindicato [a aprovação] prejudica.
Por que o sindicato é contra?
O sindicato é contra o plano porque a empresa passa por bom momento no mundo. No Brasil, é líder do mercado por três anos seguidos. E não deveria tirar dos trabalhadores para garantir investimentos.
E os investimentos?
A GM não deu detalhes sobre investimentos. Eles passaram R$ 3,5 bilhões para um novo carro aqui e R$ 1,5 bilhão para exportação. Mas não deram detalhes.
Qual será o próximo passo?
A assinatura do acordo está condicionada a ela investir aqui. Só vamos assinar acordo se a empresa cumprir o investimento. Vamos sentar agora para ver os acordos, com advogado, e ver a parte legal.
O que fará com relação a aprovação?
O sindicato segue com sua luta a favor dos empregos e vamos lutar pela estabilidade. É a bandeira do sindicato.
Entrevista com Luiz Carlos Prates, o Mancha, da CSP Conlutas e ex-secretário-geral do sindicato
O que achou da decisão?
Não podemos considerar uma vitória um resultado que reduz o direito dos trabalhadores. Para a economia e o futuro é uma derrota. Foi vontade soberana dos trabalhadores e vamos lutar para garantir emprego, melhores salários e condições de trabalho.
Como fazer?
Estamos chamando um movimento nacional para igualar as condições dos salários em todo país, mas por cima, não por baixo, senão as montadoras colocam um revólver na cabeça dos trabalhadores para aceitar [reduzir]. Temos que resistir em todos os lugares e precisamos de um contrato nacional. Queremos emprego com direitos.
Opinião de trabalhadores da GM
Alessandra Verecki, 40 anos
Se não aprovar, não viria para cá [o investimento] e tudo o que tem hoje iria perder. É oportunidade para mais gente. Por mais que seja uma grade mais baixa, há tanta gente desempregada que vai trazer conforto e tranquilidade para muitas famílias no Vale.
Luiz Felipe, 33 anos
A gente precisava de investimento na fábrica para ela reacender novamente. A tendência seria fechar em 2021 sem investimento. Agora teremos um fôlego para mais 10 anos. Os trabalhadores já estavam querendo acabar com essa briga para garantir o investimento.